Dos telefonemas e rascunhos

Nas estradas curtas que percorri aquela madrugada, enquanto caminhava por debaixo das árvores que faziam sombra no muro da casa cor de rosa com o muro enorme, pensei um pouco sobre tudo. Aquele caminho que eu costumava fazer quando voltava da casa de um velho amigo me remetia minha época do colegial, todas aquelas folhas secas, frutos podres e tijolos arrumados no próximos ao muro rosa me levavam a um estopim de lembranças. Da escola, dos cursos, dos colegas, amigos, professores, companheiros, amores, desafetos… tudo aquilo que caberia em uma boa biografia pessoal – se eu tivesse uma vida tão curiosa, é claro.

Mas pensar sobre tudo não significa pensar apenas no que passou. Normalmente eu só penso no passado, como todo bom nostálgico costuma pensar, mas pensei também sobre o futuro. Pensei que no futuro aquelas calçadas poderiam não mais estar ali, pensei que talvez eu não tivesse mais oportunidades de seguir aquela rua,  por aquele caminho rumo ao meu apartamento onde minha mãe me esperava, provavelmente inquieta por ser madrugada. É triste pensar dessa forma, mas é a realidade. No passado só seguia por aquelas ruas quando andava para a escola ou para casa de um outro velho amigo. Hoje em dia me mudei e passo sempre por ali. A tendência é essa. Mudar. Cada vez mais e mais. O futuro é incerto, talvez por isso traga tantas dúvidas de como devemos agir no presente. Presente o qual não deixei de pensar.

É difícil pensar no presente quando o ponteiro do relógio corre depressa e transforma um simples piscar de olhos em passado. Mas me lembrei de algo bem recente dessa vez. Me lembrei de uma conversa ao telefone com a minha mais antiga, e melhor, amiga. Com ela conversei sobre todas essa mudanças, sobre como retomar pessoas que se afastaram e sobre o que é, e o que não é, possível e saudável de se retomar. A conclusão que tirei daquelas 3h ao telefone foi de que amigos de verdade sempre podem voltar a sua vida, mesmo que pareça impossível.

Mas tudo isso é diferente quando a temática é “amor”. Esse sim pode não durar para sempre. Mas independente de tempo, modo de vida ou local o amor é inevitável. Muitos correm atrás dele a vida toda, pensando sempre que no futuro cruzaram em uma avenida, passarela, escada-rolante, loja ou seja lá o que for com aquela pessoa que desejará até o fim dos dias. Outros correm atrás de amores perdidos, seja com uma pessoa que amou de forma carnal ou apenas mental. Sabe? Aquela menininha de camisa de bolinhas, cabelo preso, mochila com um bottom do Hole e uma botinha charmosa que fazia curso de informática contigo? Então, ela mesma. E por último aqueles que vivem um grande amor, que tem a sorte de terem encontrado alguém que amará e será amado da forma mais intensa possível. Fazendo com que “seja eterno enquanto dure”. É complicado, mas no fundo precisamos disso.

Eu vivo a incessante busca. Ou talvez evitando que encontre o tão desejado destino. A sensação de garantia em uma vida amorosa estável é quase irreal, afinal no fundo todos sempre pensam “E se isso acabar? como eu fico?”. Mas pensando assim ou não procuramos, sonhamos e desejamos ter alguém. Isso é curioso e ao mesmo banal demais para se explicar. Aconselho viver e passar por isso, faz bem e faz mal. Mas não há mal nesse mundo que um livro, um copo de licor e um cd do Led Zeppelin não possam apagar.

~ por danschettini em março 1, 2010.

2 Respostas to “Dos telefonemas e rascunhos”

  1. amores, sonhos e amigos. três questões que fazem parte de muitas pessoas… mas talvez os amigos são os que não mudam e os que sempre voltam.

  2. Às vezes fico em dúvida se devo apenas aproveitar o presente, mas tudo o que eu fizer no presente terá uma consequência no futuro e deixará um passado inapagável. É difícil conciliar tudo isso com amores, amigos e mudanças. Enfim, post muito bem escrito e final interessante. :)

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