Mutações

•abril 15, 2010 • 3 Comentários

Somos mutáveis. Todo mundo precisa mudar um dia. Mudamos de casa, mudamos de ciclos, mudamos de amigos, mudamos de escola. Mudamos de desafios, destinos. Mudamos de caminho.

Aquele que disser que é o mesmo que era 10 anos atrás estará mentindo. Ninguém foge das mudanças. Ninguém. Há sempre aquele que se diz imutável, intocável e capaz de sempre cativar as mesmas coisas e pessoas por ter sempre seu jeito estável.

Imagine-se agora como uma pessoa assim. Sabe? Sem nunca mudar, trocar de gosto, alma, rosto. Consegue?

Imagine atravessando aquela rua deserta todos os dias de sua vida, escutando os mesmos três discos que sempre escutava quando tinha 13 anos. Tente visualizar você apaixonado pela mesma garota durante toda sua vida, levando sua face em todos seus sonhos como se ela fosse seu primeiro e eterno amor. Imagine que sempre desistirá de coisas difíceis que desistiu, que sempre estudará como louco apenas as matérias que acha difícil e deixar o que mais gosta de lado por se considerar sábio o suficiente naquilo. Imagine as mesmas cortinas do seu quarto por toda sua vida balançando na mesma direção sem que você tenha vontade de fecha-las.

Como seríamos se fôssemos constantes? Os mesmos erros, os mesmos feitos?

Faria de tudo sem sentido? Faria da vida uma página branca sem sentido? Afinal, temos que mudar em algum momento. Temos que crescer, correr, pular… voar.

Quantas vezes você já mudou drasticamente? Quantos amigos deixou para trás? Quantas fotos rasgou? Quantas provas zerou? Quantos beijos deu? Quantas vezes deixou de urinar para ver o resto do filme?

Fato é que temos que nos acostumar com as mudanças. Cruéis ou não. Temos que dar conta das perdas e das vindas, temos que caminhar sem olhar para trás, temos que pular sem pensar duas vezes. A vida é um precipício que você tem a opção de saltar e vive-la intensamente e de forma direta ou então você pode escolher descer com uma corda, de forma cautelosa e observadora. Que caminho prefere trilhar? Que pílula tomar? Que sonho seguir?

Delírios nunca mais

•março 16, 2010 • Deixe um comentário

Minha mente congela, mas nunca deixa de estar acordada. Acordada no escuro das lembranças que deixei escondidas de mim mesmo. Mergulhando naquele escuro lembrei-me das lágrimas que contive, dos perdões que tive vergolha e das fotos que rasguei. Mas sigo assim, na escuridão.

Seguro forte meus cotovelos como forma de proteção.  Abraço-me em um ato desesperador e nojento de repudiar e afastar um medo infantil que me assombra. Falo sozinho, deliro nas trevas e me calo com o desejo de sumir dali. Mas de nada adianta o desespero. Recordo-me das palavras que cuspi em vão, que são só palavras que de nada serviram. Palavras que no chão deslizam e a mim atordoavam. Mas agora nada importa.

Agora tu me chamas. Não sei mais quem é “você”, porque de “você” me afastei. Mas tua voz eu reconheço, mesmo de longe posso saber. Estou com “você”, mas eu não sou mais o que queria. Prefiro te esquecer, te apagar e seguir mais uma vez sozinho. Mas se “você” me chamar terei de dar-te ouvidos, terei de aceitar tua voz. Te julgarei e o culparei. Mas aqui no escuro de nada serve. E mesmo que me implore eu não irei voltar.

Não pedirei perdão. Não me arrependerei. Não tentarei ser como queres e não irei te pedir ajudar. Não a “você”. Porque pra mim de nada serve no escuro mergulhar e do mundo me afastar se for para ouvir-te. Então contra meu peito disparo um tiro, para assim tentar me livrar de “você” que me ilude e me empurra para caminhos que não saberei trilhar. Perfuro-te pois sei que está é a unica forma de um homem prosseguir sem te escutar. E seus sussuros e clamores não mais ouvir. Não pedirei perdão a quem me faz sofrer. Não desta vez.

E Não. Não me despedirei.

O glorioso e eterno camisa 7

•março 15, 2010 • 1 Comentário

Este pode parecer um post meio exagerado de minha parte e talvez até precipitado. Talvez até seja. Mas não consigo esconder a minha amarga decepção em relação a lesão de David Beckham ocorrida neste domingo. Assistia ao jogo do time rossonero de Milão quando vi aquela cena que me partiu o coração. Não pelo drama pessoal de um jogador, mas sim pelo drama pessoa Do Jogador.

Venho acompanhando o futebol de David Beckham a exatos onze anos. Tudo começou quando criei minha surreal afeição pelo Manchester United em 1999, ano que o clube faturou a UEFA Champions League com um time realmente incrível.  Mas o destaque dos destaques, daquele invencível elenco, era sem dúvida o jovem Beckham. Com garra e classe ele realmente mudara o meio campo daquela equipa com suas cobranças de falta e passes fabulosos. Para mim, ali surgia um novo ídolo. Um novo jogador para acompanhar.

De certo que eu era muito jovem, mas acompanhava o quanto podia o Campeonato Inglês e me apaixonava mais pelo estilo de jogo dos “Diabos Vermelhos” e de seu camisa 7. Lembro-me claramente de grandes momentos como a inesquecível cobrança de falta que Beckham bateu contra o Real Madrid em plena Champions League. Nenhum goleiro pegaria aquela bola! Realmente incrível. Em 2002 vimos um David Beckham diferente. Muito criticado pela mídia por não ter grandes atuações pela seleção inglesa, Beckham acabou por se redimir em uma cena realmente lendária: No jogo Inglaterra x Argentina, Beckham cobraria um penalty e comemoraria da maneira mais absurda que eu já vira no futebol, aquela força e vontade me fizeram adimira-lo ainda mais. Com garra e força o esquadrão inglês avançou até as quartas da competição sendo freada apenas pela surpreendente seleção brasileira, comandada por Felipão e regida pelos “R’s” (Rivaldo, Ronaldo e Ronaldinho Gaúcho). Mas Beckham com certeza não passou em branco, fazendo uma ótima partida contra o Brasil e uma boa Copa do Mundo.

Em 2003 Beckham deixaria os Diabos Vermelhos e migraria para a Espanha, para atuar no maior clube do mundo: O Real Madrid. Apesar de muito criticado no início, como todo grande craque que chega ao Real Madrid, Beckham conseguiu seu espaço e se tornou peça vital do meio campo merengue. Meu fanatismo pelo agora camisa 23 do Real Madrid não diminuiu. Continuei acompanhando seu futebol e seguindo seus passos.

Após uma atuação apagada na Copa da Alemanha em 2006, Beckham acabou optando por novos ares. O jogador deixou o Real Madrid em 2007 para vestir o uniforme do Galaxy, time dos Estados Unidos e  manter sua camisa 23 por lá. Ganhando um dos maiores salários do mundo se manteve no país jogando em um clube apagado para Europa, mas não para Fabio Capello (então técnico da seleção inglesa). Em 2009 o jogador foi emprestado ao Milan com um curto contrato e jogou até o fim da temporada italiana. Com o apelo do técnico Capello  o jogador voltou ao Milan este ano para que então voltasse a jogar em um time de grande escalão e pudesse estar pronto para disputar a Copa do Mundo da África.

Com atuações boas e de “classudas” Beckham se tornou uma peça importante no esquema do técnico Leonardo, ajudando o time a chegar nas oitavas de final da Champions League, onde pela primeira vez Beckham enfrentaria seu (e meu também!) clube do coração: O Manchester United. No primeiro jogo, realizado na Itália, o Milan pereceu perante as forças do Manchester, mas o grande encontro viria duas semanas depois em Old Trafford, “O teatro dos sonho”. Lembro-me que fui assistir ao jogo (que o Manchester ganharia por avassaladores 4 x 0) na casa do meu amigo Rodrigo e vimos no segundo tempo de jogo a comoção da torcida vermelha. Com lágrimas nos olhos, David Beckham, entrou na segunda etapa da partida com uma salva de palmas absurda. Cartazes e faixas com os dizeres “Thanks for everything” e “Welcome home, Becks” lotavam a torcida dos “Devils”. Nunca em toda minha vida havia visto tamanha recepção, ainda mais pelo clube que, naquela situação, seria seu adversário.

Chegamos então no dia de hoje. Acabei por fazer um imenso post falando daquele que considero meu grande ídolo do futebol e o jogador que de fato acompanhei desde seus gloriosos tempos na cidade Manchester. Mas voltemos ao assunto. Ao ligar a televisão na casa da minha avó acabei assistindo parte do jogo Milan x Chievo pelo campeonato italiano. Beckham estava em campo. Faltando menos de 90 dias para o início da Copa do Mundo da África do Sul e praticamente com vaga garantida da equipe de Fabio Capello, assistia eu aquilo que parecia um filme de terror. Sozinho Beckham caíra no chão e levava as mãos a cabeça. Com a amargura extampada no rosto vi um misto de desespero e decepção. E o desespero não fora atoa. Beckham havia rompido o tendão de Aquiles, lesão que demoraria entre 5 e 7 meses para se recuperar. Foi um choque para todos nós, eu sei.

Infelizmente aos seus 34 anos Beckham não tera longa vida no futebol. E infelizmente essa seria sua ultima Copa do Mundo. Talvez a lesão de Beckham não tenha sido tão grave, talvez uma grande confusão médica e ele consiga se recuperar a tempo de vestir a camisa 7 da seleção inglesa novamente. Talvez seja tudo um pesadelo e eu vá acordar a tempo de poder ver o meu grande ídolo do futebol ter a chance de provar mais uma vez ao mundo que pode sim entrar no hall da fama do futebol. Gostaria eu que fosse verdade.

Estarei torcendo para que David Beckham se recupere da melhor forma possível e que essa lesão não seja um ponto final em sua carreira. Torço para que o Milan vá em frente em sua campanha no Campeonato Italiano e que a Inglaterra faça uma boa campanha na Copa do Mundo para que todos possam dedicar sua glória a este jogador de enorme talento e classe que fará muita falta no principal evento esportivo do mundo. Força Beckham, estamos com você!

Das plataformas

•março 11, 2010 • Deixe um comentário

Lá vai o trem, cheio de lembranças

Lá vai o trem, que imaginei quando criança

Lá vai o trem, me tirando a esperança

Lá vai o trem, carregando a minha infância

Sobre as assombrações que gargalhamos

•março 10, 2010 • 3 Comentários

Sempre gostei de falar sobre o tempo e sobre o passado nos meus textos. Não que eu me sinta bem em ser uma pessoa extremamente saudosista, mas gosto de escrever sobre o que me faz pensar demais. É inevitável pensar nas coisas que passam, nas que ficam e nas que poderiam ter ficado mas se foram. É triste e ao mesmo tempo feliz parar e refletir sobre isso.

Hoje estava passando um VT do jogo Brasil x Holanda, da Copa do Mundo de 1974, e fiquei pensando que grandes jogadores dali já não atuam mais, alguns até morreram. Isso me lembrou alguns fabulosos jogadores que eu vi jogar e que hoje se aposentaram. Como o meu favorito, o francês Zinedine Zidane. Mas não só no futebol sinto essas saudades, costumo sentir falta de tudo que integrava minha lista de coisas favoritas, não que tenham deixado de ser adoradas, mas muitas delas simplesmente não acontecem mais. Jogos de cartas, tabuleiro, dados, programas de tv, desenhos, seriados… coisas bobas, mas que vão se perdendo e quando as encontramos novamente pensamos: “Nossa como eu gostava disso…”.

Mas todos os exemplos que citei acima podemos tentar retomar. Podemos baixar os seriados e desenhos para assistir novamente ou mesmo procurar no youtube. Os jogos podemos combinar de jogar novamente, o jogadores que amávamos no futebol podemos ver o VT dos jogos ou mesmo jogar com eles no video game. Mas existe uma “coisa” que jamais podemos retomar: os momentos. A emoção de tentar gritar “É campeão!” por ter  ficado mudo na final da Copa do Mundo de 2002 devido as lágrimas não pode se repetir. O momento ápice de um grupo de amigos jogando RPG nos intervalos da escola  se unindo para derrotar o mais terrível dos dragões vermelhos não pode se repetir. As idas a pizzaria ao som de piadas, as festas familiares com todos reunidos, os fogos do ano novo com música clássica ao fundo… cada detalhe daqueles momentos, cada som, cada palavra… nada daquilo poderá se repetir. Querendo ou não.

O que podemos fazer é ter perto de nós tudo aquilo que habita os cantos de nossas memórias. Ter ao nosso lado os amigos, as recordações e as lembranças das lágrimas e sorrisos que ficaram para trás. Marcar encontros, sentar para conversar sem compromisso, deitar na cama e rir sozinho de coisas que se foram… coisas simples assim. Algumas pessoas preferem não se prender ao passado, não gostam de retomar momentos e preferem guiar suas vidas pensando no amanhã. Eu não consigo ser assim, feliz ou infelizmente. Afinal, que pessoa eu seria se não tivesse colocado no radio o disco do Nirvana que minha mãe tinha? Ou que personalidade eu teria se nunca tivesse entrado na escola que entrei? Como eu seria se tivesse desligado a tv quando começou Cavaleiros do Zodíaco pela primeira vez na gloriosa Rede Manchete? Provavelmente uma pessoa diferete, talvez melhor, quem sabe? Talvez menos saudosista… ou não.

Termino esse post com uma frase que ouvi no filme Meu nome não é Johnny: “A vida é uma raposa… quando percebemos ela já nos levou tudo.”

– Foto da minha prateleira de brinquedos do meu antigo quarto. Miniaturas que variam desde Fox Molder até Megazord (Um prêmio para quem achar ele!). Divirtam-se com eles! :)

A semana do desocupado – Acordando novamente (Texto 2)

•março 6, 2010 • 1 Comentário

Com o sol em sua face e barulhos na casa o mal-humorado desocupado desperta. Sim, totalmente irritado. Afinal, não há nada melhor que dormir quando não se tem o que fazer. E sua mãe, seu eterno despertador, o acorda com barulhos propositais no cômodo ao lado de seu quarto para que ele possa, ao menos, almoçar como uma pessoa decente. Sem fome, ele come. Pronto para enfrentar a tão odiada segunda-feira ele liga a televisão e assiste ao noticiário. Coisas sobre queda do dólar, novos empregos e resultado da USP não o interessam. Mas mesmo assim ele se mantém por dentro para que tenha assunto com seus amigos em uma mesa de bar.

Um passeio pela cidade, um telefonema qualquer e um gole de café em uma tabacaria próxima para embalar seu dia. Ele visita pequenas e grandes lojas, faz planos em sua cabeça e pensa “se eu pudesse compraria aquilo!”. É claro que ele nunca poderá, não se viver sua vida como leva. Mas ele leva. E vai levando, levando até o dia que não terá mais forças e de duas uma: Desistirá de viver ou será obrigado a isso.

O medo de encontrar um conhecido na rua faz com que volte a sua casa e mergulhe no velho mundo do tédio, mais conhecido como seu quarto. Passa umas horas vendo vídeos engraçados no youtube, em seguida assiste um filme dublado qualquer no SBT e resolve então ler um pouco de gibi. Os dias passam e a bigorna do tempo cai em seus pés. Nada caminha, nada se mexe… a segunda-feira, tida como o pior dia da semana por muitos, para ele só serve como uma simples largada até o fim da semana, onde terá o que fazer.

Com a consciência um pouco pesada e usando o pouco de lucidez que ainda lhe resta ele pensa sobre seu ócio. Resolve então planejar algo. Em seu único caderno, um velho cheio de desenhos e rascunhos que fazia na época da escola, ele escreve planos que pretende por em prática na semana seguinte. Cursos, estudos, atividades, boates, festas, passeios… de tudo um pouco. Quando fecha o caderno deixa cair umas folhas, nas folhas estão planos. Iguais aos que ele acabara de fazer. Quantos ele realizou? Nenhum. Então resolve jogar fora o caderno com tudo dentro, inclusive o que havia escrito a uns cinco minutos. Junto com o caderno ele joga sua vontade de se mexer e seus pseudo-sonhos. Sem planos e cadernos o desocupado deita, pensa um pouco e adormece enquanto espera que mais um dia amanheça.

– Foto tirada com meu antigo celular do primeiro rascunho de I’ll Be There, uma das primeiras músicas da extinta The Bubble. Música feita por meu primo Carlos e eu na época da pseudo-banda “Oh! Pássaro Cândido”. Caligrafia do Carlos.

A semana do desocupado – O domingo (Texto 1)

•março 2, 2010 • 2 Comentários

Vamos começar por partes. Muitas pessoas são tidas como “vagabundas” e “desocupadas” por diversos motivos. Pode ser por estar desempregado, de férias na escola, ser um vestibulando e outras coisas semelhantes a isso. Nesta “série” de sete textos vou tentar por em palavras a minha visão de como é a semana de um desocupado – ou vagabundo, como preferir.

Tudo começa no Domingo. O dia do repouso. Aquele dia familiar onde todos aproveitam para se reunir, conversar, ver televisão e almoçar juntos. Tirando a parte da televisão, o domingo pode ser um dia legal para pessoas legais com famílias legais. Menos para “O desocupado”. O desocupado chega ao domingo com sua cabeça saturada de tanto ouvir das pessoas, e muitas vezes de si mesmo, que deve encontrar algo para fazer. Quando a família se reune muitas vezes o assunto pode parar nele e comentários típicos de uma família que adora alfinetadas podem surgir; perguntas como “E ai? O que tem feito” podem ser quase uma violência verbal.

Além da família e de pessoas intrometidas se metendo na vida do “desocupado” existe sua própria consciência. O grilo que fica gritando na sua cabeça “Amanhã é segunda-feira! Vai ser mais uma semana que você não vai ter começado nada nessa sua vida medíocre!”. Tudo isso atordoa sua cabeça e faz de seu final de fim-de-semana um inferno. Os problemas desaparecem quando começa o jogo de futebol! Ahhh o futebol… sempre ajudando a esquecer os problemas, é a hora do dia que tudo some e apenas o grito de “gol!” fica entranhado na garganta.

A noite vai chegando e alguns amigos resolvem chama-lo para sair. O desocupado não tem muito dinheiro mas acha que consegue arrumar algo até terça-feira, quando haverá um feriado. Combinado! Terça-feira será o dia em que o tédio deixará de borbulhar em seu sangue e ele poderá sair de seu cafofo particular. Enquanto esse dia não chega ele mergulha sua cabeça em um balde de tédio, se entregando a comilanças, televisão, computador… tudo!

Gostando ou não ele se acostuma com essa vida. Não que ser desocupado seja bom (ai de mim dizer isso!), mas ele tenta as vezes procurar algo para fazer. Porém a maioria dos desocupados encontram motivos, normalmente completamente esquizofrênicos, para justificar sua falta de ímpeto. Mas deixemos as razões para outra ocasião.

O domingo então termina, o que não significa que ele irá dormir. Ele começa a pensar o que fará na segunda-feira, que provavelmente não está com nada anotado em sua agenda. Enquanto ela não chega para atordoá-lo ainda mais, umas partidas de Warcraft online caem bem para distrair e um leve bate-papo com sua quase-namorada online também. Um doce ali e outro aqui o desocupado vai levando assim… no tédio profundo até que sua semana acabe e tudo se repita outra vez.

– Foto de Sally Kaneshiro, querida amiga moradora da  cidade de Osaka no Japão (que vai me hospedar quando eu for pra lá! haha).

Dos telefonemas e rascunhos

•março 1, 2010 • 2 Comentários

Nas estradas curtas que percorri aquela madrugada, enquanto caminhava por debaixo das árvores que faziam sombra no muro da casa cor de rosa com o muro enorme, pensei um pouco sobre tudo. Aquele caminho que eu costumava fazer quando voltava da casa de um velho amigo me remetia minha época do colegial, todas aquelas folhas secas, frutos podres e tijolos arrumados no próximos ao muro rosa me levavam a um estopim de lembranças. Da escola, dos cursos, dos colegas, amigos, professores, companheiros, amores, desafetos… tudo aquilo que caberia em uma boa biografia pessoal – se eu tivesse uma vida tão curiosa, é claro.

Mas pensar sobre tudo não significa pensar apenas no que passou. Normalmente eu só penso no passado, como todo bom nostálgico costuma pensar, mas pensei também sobre o futuro. Pensei que no futuro aquelas calçadas poderiam não mais estar ali, pensei que talvez eu não tivesse mais oportunidades de seguir aquela rua,  por aquele caminho rumo ao meu apartamento onde minha mãe me esperava, provavelmente inquieta por ser madrugada. É triste pensar dessa forma, mas é a realidade. No passado só seguia por aquelas ruas quando andava para a escola ou para casa de um outro velho amigo. Hoje em dia me mudei e passo sempre por ali. A tendência é essa. Mudar. Cada vez mais e mais. O futuro é incerto, talvez por isso traga tantas dúvidas de como devemos agir no presente. Presente o qual não deixei de pensar.

É difícil pensar no presente quando o ponteiro do relógio corre depressa e transforma um simples piscar de olhos em passado. Mas me lembrei de algo bem recente dessa vez. Me lembrei de uma conversa ao telefone com a minha mais antiga, e melhor, amiga. Com ela conversei sobre todas essa mudanças, sobre como retomar pessoas que se afastaram e sobre o que é, e o que não é, possível e saudável de se retomar. A conclusão que tirei daquelas 3h ao telefone foi de que amigos de verdade sempre podem voltar a sua vida, mesmo que pareça impossível.

Mas tudo isso é diferente quando a temática é “amor”. Esse sim pode não durar para sempre. Mas independente de tempo, modo de vida ou local o amor é inevitável. Muitos correm atrás dele a vida toda, pensando sempre que no futuro cruzaram em uma avenida, passarela, escada-rolante, loja ou seja lá o que for com aquela pessoa que desejará até o fim dos dias. Outros correm atrás de amores perdidos, seja com uma pessoa que amou de forma carnal ou apenas mental. Sabe? Aquela menininha de camisa de bolinhas, cabelo preso, mochila com um bottom do Hole e uma botinha charmosa que fazia curso de informática contigo? Então, ela mesma. E por último aqueles que vivem um grande amor, que tem a sorte de terem encontrado alguém que amará e será amado da forma mais intensa possível. Fazendo com que “seja eterno enquanto dure”. É complicado, mas no fundo precisamos disso.

Eu vivo a incessante busca. Ou talvez evitando que encontre o tão desejado destino. A sensação de garantia em uma vida amorosa estável é quase irreal, afinal no fundo todos sempre pensam “E se isso acabar? como eu fico?”. Mas pensando assim ou não procuramos, sonhamos e desejamos ter alguém. Isso é curioso e ao mesmo banal demais para se explicar. Aconselho viver e passar por isso, faz bem e faz mal. Mas não há mal nesse mundo que um livro, um copo de licor e um cd do Led Zeppelin não possam apagar.

Lobos, arco-íris e cabeças de radio

•fevereiro 22, 2010 • 3 Comentários

Estava ontem de madrugada, mais exatamente às 4:47 da manhã, conversando com um amigo meu que reside na Zona Sul do Rio de Janeiro. Dentre vários assuntos sobre rock, filmes e guitarras distorcidas acabamos entrando em um assunto que me sinto bastante empolgado em falar: A genialidade do Radiohead.

Conversa vai e conversa vem até que ele falou sobre o disco recente da banda, o “In Rainbows”. Lembrei-me então que foi um disco que quando escutei de cara não fui muito com a vibe que ele passava. Talvez eu não tivesse alcançado a grandeza do álbum, ou simplesmente não tivesse dado a atenção devida. Com o decorrer da conversa sobre os detalhes mínimos do disco, contei sobre como passei a gostar dele e como o show do Radiohead me fez ter uma visão ainda mais absurda sobre o mesmo.

É fato que sou um grande fã da banda e como todo grande fã irei procurar coisas absurdas em tudo o que eles fazem. Mas a minha análise foi um pouco mais “estranha”, se posso chamar assim, do que o convêncional. O Radiohead havia lançado até o “In Raibows” cinco discos. Cada um com elementos diferentes e formas de expressão diferentes. E querendo ou não Thom Yorke e seus fiéis escudeiros (e que escudeiros!) conseguiram mesclar cada traço usado nos discos anteriores neste último disco. Juntaram dentro do caldeirão o toque pop (e acessível) do “Pablo Honey” e do “The Bends”, pegaram o detalhísmo entusiástico do “Ok Computer”, um toque da genial (e excessiva) loucura do “Kid A” e do “Amnesiac” e por último o perfeccionismo do fabuloso “Hail To The Thief”. Juntando todos esses raros ingredientes fizeram um aborto musical de onde saiu o inquestionável “In Raibows”.

Mas a genialidade não parou por aí. Não para mim, claro. Quando começei a gostar mais de Radiohead uma música deles eu me lembro que sempre chamou demais minha atenção, a ultima faixa do “Hail To The Thief”: “A Wolf at The Door”. É uma música com um crescimento tremendo. Mas não apenas por isso ela me empolgava. A sensação que eu sentia ao escutar essa música era algo realmente diferente de tudo que já havia sentido antes. Parecia uma escadaria! Toda vez que o meu disco entrava na 14ª faixa eu sentia que estava começando a subir uma escadaria longa (estilo Cavaleiros do Zodíaco, manja?) que daria em algum lugar ainda desconhecido por mim e por todos os fãs de Radiohead. Mas dessa vez eu acho que consegui descobrir. Eu havia, minutos antes, colocado o “In Rainbows” para tocar assim que terminasse o “Hail To The Thief”. E quando terminou a última faixa e entrou em seguida a música “15 Step” senti um baque forte! Como um soco na minha cara! Parecia que tudo se encaixava e todos aqueles degraus não estavam ali atoa. Acompanhem: A sensação de que tudo necessário para se fazer um disco perfeito já tivesse em mesa era óbvia, devido aos discos maravilhosos feitos pelo grupo. Após todos esses discos a última faixa, do ultimo disco lançado até então, me passava aquela sensação de escadaria. Logo a décima quarta faixa do ultimo disco! É simples: Aquela era a escadaria que daria na “décima quinta etapa”, que seria o início da perfeição. A escadaria da terra, para os arco-íris. A genialidade do “Hail To The Thief” que nos levaria até a perfeição do In Rainbows! E tudo parecia de fato se encaixar para mim, acho que faz sentido!

Fazendo sentido ou não percebi que posso estar muito alucinado ou muito viciado em Radiohead (a ponto de escrever este post enorme e completamente louco). Uma coisa é fato: Ou eu acertei em cheio o que Thom Yorke quis dizer com “A Wolf At The Door” e “15 Step” ou eu estou ficando completamente maluco.

[Ouçam as duas músicas e se tiverem interesse, abaixo segue dois vídeos com as músicas para quem quiser concordar ou discordar da minha tese. Fiquem a vontade. Aconselho ouvir as músicas seguidas, mas para quem não tiver e nem quiser baixar postarei os vídeos.]

Desencontros

•fevereiro 21, 2010 • 3 Comentários

Certa vez eu caminhava pelas ruas da vida quando avistei de longe um palhaço. Ele estava ao lado do sinal de trânsito com sua roupa característica e conversava com um guarda local. Enquanto esperava o sinal fechar ele limpava o suor que ficava preso em sua testa, devido ao uso excessivo de maquiagem que servia para passar aquele semblante tradicional e alegre do palhaço de circo. Quando o sinal fechou para os carros parei de ler meu livro de bolso para observar a demonstração do alegre palhaço. Jogava as bolas coloridas para o alto, equilibrava-se em bastões e fazia malabarismos invejáveis! Era realmente incrível o que um simples palhaço de sinal fazia com quatro bolinhas de tênis e dois bastões de madeira. Uma pena que a maioria dos motoristas nem sequer estavam olhando para o esforçado animador.

Antes do sinal abrir atrevessei correndo a rua e entrei na fila do ônibus que, para o meu azar, havia acabado de sair. Enquanto esperava o próximo ônibus observei uma menina próxima a fila. Vestia uma calça justa, sapatos coloridos e uma blusa estranhamente peculiar. Reparei então que ela estava discutindo com o namorado, ou algo semelhante a isso. Não sei se era namorado, mas acho que ninguém que não tenha essa alcunha se irrita com olhares a pessoas alheias. Ciúmes, um velho motivo para brigar. Quase me lembrei de uma velha história de amor minha, mas não gosto de lembrar disso então fiquei só no quase mesmo.

Finalmente o meu ônibus chegou e entrei junto com umas oito pessoas, que se esforçaram para caber dentro daquele ônibus extremamente lotado. Dentre as oito pessoas que entraram estavam a garota e o palhaço, agora sem a peruca e o nariz mas com parte da maquiagem. A garota sem o namorado e eu sem o meu livro, que havia guardado na mochila. Conforme eu observava as pessoas via suas motivações, seus suspiros e ouvia parte de suas conversas por telefone. Descobri que a trocadora tinha uma irmã com AIDS que vivia a base de coqueteis, percebi que o palhaço tentava parar de fumar, pois usava adesivos de nicotina. A menina não namorava o garoto, eles eram primos, e ele não estava com ciúmes, só estava com medo dela ser assaltada. Havia uma moça com um bebê no colo, que olhava pro palhaço e sorria. O palhaço nem havia percebido, mas ele trazia para aquela criança alguma felicidade, mesmo sem querer. O palhaço olhava para o traseiro da garota que olhava despercebida para o seu celular, onde provavelmente escrevia uma mensagem para alguém (quem sabe, dessa vez, o namorado?).

Mas não importava para onde eu olhasse, todas as pessoas tinham um “plano paralelo”. Tinham suas vidas, curiosas ou não. Na rua, quando andamos, para a maioria das pessoas somos somente pessoas. Indo para qualquer lugar, fazendo qualquer coisa… e para mim, a rua nunca foi um lugar qualquer. Sempre me preocupei com o que poderiam pensar de mim quando me olhassem nas calçadas. Será que eu passaria a todos o que eu realmente sou? Será gostariam de saber quem eu realmente sou? No fundo acho que sempre tentei fazer com que pudessem decifrar isso, já que por mais que eu tente – e muitas vezes até consiga – decifrar todos a minha volta, nunca consegui – e talvez nunca consiga – decifrar a mim mesmo.